sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Hora do Conto no Centro Cívico de S. Vicente





A primeira edição da iniciativa da Hora do Conto, no Centro Cívico de S. Vicente, foi um verdadeiro sucesso. As crianças da freguesia possuem agora mais uma valência cultural de grande nível e valia. Todas as crianças das escolas da freguesia vão ter oportunidade de assistir a mais uma aposta de sucesso do actual executivo de S. Vicente. A segunda edição da hora do conto acontece brevemente... esteja atento...





Crianças de S. Vicente deliram com a hora do conto





Foi com muita música e leitura de um conto que a Junta de Freguesia de S. Vicente promoveu a sua primeira edição da hora do conto, no Centro Cívico. A estreia foi um sucesso. Os primeiros utentes desta nova valência cultural da freguesia vicentina foram os alunos do jardim-de-infância da Quinta das Fontes. Todas as crianças das escolas da freguesia vão ter acesso à hora do conto. Esta primeira sessão inaugural foi animada por António Castanheira. Cativou a criançada com os seus contos acompanhados à viola.

O animador abriu com músicas dedicadas a eles e a elas. Captou magistralmente a atenção do seu público e encheu a sessão de música e alegria. As crianças deliraram com a iniciativa e acompanhavam as músicas com palmas e cânticos.



António Castanheira escolheu o conto da lebre e da tartaruga e lá foi encenando acompanhando com música até que chegou ao final para dar a perceber as duas grandes lições a retirar do conto. No caso “devagar se vai ao longe” e “aprender a não desperdiçar o precioso tempo de que dispomos”. A parte lúdica foi do agrado do seu exigente público mas a faceta educativa também foi bem aceite pela pequenada.

De resto, as crianças que encheram por completo a sala de formação do Centro Cívico tiveram ainda a oportunidade de ver as montras daquele edifício. A do Sporting Clube de Braga foi a que captou mais a atenção dos alunos.

Deliraram com os produtos expostos do clube mais representativo da cidade, o S.C.Braga. As restantes montras eram das associações da freguesia e dos caminhos de santiago. Dali, dirigiram-se à biblioteca Dr. Domingos Alves, onde lhes foi explicada a importância da mesma e da leitura. Domingos Alves, vogal da Junta de S. Vicente ministrou uma mini-palestra salientando a importância das bibliotecas e da leitura em geral. Referiu igualmente que os livros estão à disposição de todos aqueles que os queiram requisitar, pois só desta forma se entende a existência de qualquer biblioteca. Os livros são para serem requisitados e lidos.



Domingos Alves, vogal para a Educação e Cultura e substituto do presidente, agradeceu a todos (alunos, professores e auxiliares) a participação nesta primeira hora do conto organizada pela Junta de Freguesia.

Referiu igualmente que o actual executivo liderado por Jorge Pires tem um carinho especial pelas crianças da freguesia e que tudo fará para que iniciativas destas e outras venham a ser uma realidade.


Jorge Paraíso (assessor imprensa)




informação retirada de Junta de Freguesia de S. Vicente


domingo, 19 de janeiro de 2014

Texto lido por Dr. Domingos Alves na sessão de apresentação do livro "A Noite tem Garras de Seda" de Maria do Sameiro Barroso



Obra de carácter autobiográfico/literária em prosa poética, “A NOITE TEM GARRAS DE SEDA” segue, em linhas gerais, o percurso imaginário de outros livros que Maria do Sameiro Barroso vem periodicamente dando à estampa.

Em “Seiva das Papoilas”, 1.º título dos catorze em análise, a autora refere-se a “O Enzima” como o seu primeiro trabalho literário. Aí fala de “homens devassos, apodrecendo. Não me apercebera ainda de que começava a escrever, talvez porque os homens, eternos e fi nitos, há muito haviam surgido diante de mim e me obrigavam a parar, a interrogar, a entender”. E assim, “começava a consumar a existência no álcool célere dos poemas…”, confessa. Entretanto, e já numa 2.ª etapa da sua criação literária, dá-nos conta do encontro com alguns poetas na época famosos: Tomás Ribas, Luís Veiga Leitão, Adalberto Alves, António Rebordão Navarro e outros, que lhe foram apresentados pelo grande amigo e editor José Manuel Capelo, aí consolidando o muito gosto que então já sentia pela “nobre arte”. “Recém-chegada às lides literárias, pertencia ao grupo dos mais novos… com quem partilhava o fascínio pelo reino encantado das palavras”, ainda que se considerasse uma noviça ou iniciada, mas já uma criança de olhos muito abertos… Pelos vistos, não era já assim tão noviça ou iniciada; ora leiam estes lindos versos dedicados ao seu grande amigo “Zé Capelo”: “Somos todos um eco/Zé Capelo,/a tua voz amiga,/o eixo das horas/o tempo./A voz é medida./Somos todos um eco,/o tempo é um nevoeiro,/ os poetas, como flamingos/num bosque,/no contexto, o interior,/o tempo é um filtro autêntico,/a alma é um filtro lento./Vivos não são os que vivem,/vivos são os que são./A alma é a medida.” (Pág. 12).

“Gostava que a minha vida fosse um poema puro, escrito sobre as águas, um conto perfeito, uma estrela de sal e não este crepúsculo carregado de naufrágios, suspensos da vertigem negra, contida na secreta conjugação das vozes”. Assim começa o título “As Algas Insondáveis” dedicado ao seu irmão Severino Barroso. Jovem de espírito aventureiro/radical, “a intensidade do seu olhar, as pombas ou as borboletas que dançavam nos seus olhos tinham-no levado ao convívio das núvens…”

Severino Barroso falecera aos vinte e cinco anos num acidente de aviação, no Aero-Clube de Braga. Mergulhada na dor e na solidão, é na escrita que a autora encontra algum lenitivo para esta vida cheia de mistérios e pungentes contradições: “Por isso escrevo… escrevendo linhas, plano a plano… revolvendo essa arca cinzenta que me traz a escrita…”, embora sinta “a plena consciência de que a minha vida não é um poema flutuan do nas águas…”

Porque “nos vitrais obscuros, o poema é inseparável do corpo, súbita cicatriz, marca obstinada, vocábulo do ser, grinalda errante, único porto a habitar a solidão interdita. Sei-o agora, revendo a história de uma solidão partilhada.” (pág. 27); só muito mais tarde “voltei a Caminha e ao meu rio predileto: o Minho”, confessa.

Mas a vida continua e a poesia, ainda que dorida, também, agora em Braga, revisitando “os recantos preciosos da minha infância perdida”, na companhia da mãe e tia e, ocasionalmente, do pai que, por motivos profissionais, se ausentava por longos períodos em terras de África. “Era, então, que nos deliciávamos com as suas histórias de macacos, cobras, leões, crocodilos, hipopótamos, girafas…” Era ainda no regaço da família que “eu e o meu pai colhíamos rosas, laranjas, morangos, enquanto minha mãe colhia legumes e o jardineiro tratava das árvores… Os dias corriam lestos, nas tardes de sol, sob o céu acetinado”; “aurea mediocritas” em pleno ambiente citadino, diríamos nós… “Ao domingo íamos à missa ao Sameiro, de cuja Nossa Senhora o meu pai… era bastante devoto – fora ele que me dera o nome, pois tendo eu nascido débil, o meu pai pedira à Senhora do Céu que fosse minha madrinha e me concedesse a sua proteção. No verão, eram as praias do Alto Minho, como Afife e Carreço, onde íamos apanhar sol e ouvir o mar…”

E o registo de “A NOITE TEM GARRAS DE SEDA” prossegue com a bela referência à Semana Santa, nomeadamente ao Domingo de Ramos e à Quinta-feira Santa: “Os ramos de palmeira anunciam a Paz. No Domingo de Ramos, as crianças vestem-se de anjos, evocam pecados desfeitos, cabelos soltos, Madalenas milenares…”. “Na Quinta-Feira Santa as vozes incendeiam-se nas noites de tochas e pecado; em vestes de roxo e cinza, a cidade regurgita.”

E é neste caminhar pelo espaço e pelo tempo que a autora não esquece, ainda, a Freguesia de S. Vicente, recordando Remisnuera, “mulher sueva, matriz acesa, vestígio da destruição sarracena, no ano 610”. A propósito, e para os mais curiosos, assim refere o texto da lápide sueva/visigótica que se encontra na igreja de S. Vicente: “Aqui descansa Remisnuera, desde o primeiro dia de Maio de 618, dia de Segunda-feira, em paz, amen”. (Jornal Fronteira, 18/12/2010). Datada de 618 esta lápide é, certamente, o mais antigo monumento do Cristianismo em Braga e, possivelmente, até de toda a Península. Nele se faz referência aos dias da semana, segundo a numenclatura cristã: “dia de Segunda-Feira…” sendo, igualmente, um testemunho da pregação do bispo São Martinho.

Em “Braga, Berço e Neblina” (pág. 43), tudo é encanto e fascínio: “Enamorada dos pórticos… ruas estreitas… antigos palácios da bela cidade, reconstruo a casa, o poema, a estrela coroada pela laboriosa fonte que jorra na doçura das gentes do Norte”… Nela “todo o conforto passa pelo húmus deste apego quente, vitorioso e forte…”. Lembra a Biblioteca Pública e o Arquivo Distrital, com os “manuscritos que espalham a sua cor…”; delicia-se com o café d’A Brasileira, com os passeios pela Arcada e Avenida Central; encanta-se com o estilo arquitetónico das muitas igrejas em cujas fachadas escuta “a pedra e os murmúrios das gentes antigas…”.

Também a Fonte do Ídolo não foi esquecida, neste belo roteiro de alma de Maria do Sameiro Barroso: “Na Fonte do Ídolo, uma oferenda, uma inscrição, um culto antigo – uma deusa de nome Nabia abençoa o lugar onde o silêncio flui e os lábios se reúnem”. A propósito, aqui se transcreve o que Teresa Lima publicou no jornal Público, de 29 de Julho de 2001, acerca desta bela relíquia bracarense: “Sabe-se que, provavelmente, a fonte foi mandada construir por Celico Fronto, um emigrante que se estabeleceu em Braga e terá enriquecido. Como era habitual na época, resolveu erigir um santuário e dedicá-lo a uma fusão de dois deuses: Nabia (deusa ligada às águas) e Tongo, a divindade da terra de origem de Celico”. Para quem desejar mais alguma informação poderá ainda consultar, por exemplo, no Diário do Minho, de 30 de Dezembro, de 2002, um excelente artigo de Francisco Sande Lemos. Na Sé, Monumento Nacional desde 1910, construído sob antigo mercado ou templo romano dedicado à deusa Ísis e posteriormente os muros de uma basílica paleocristã, conforme consta de uma pedra votiva na parede leste, à autora não escapa o reconhecimento histórico/artístico da vetusta Catedral Bracarense, através de minuciosas referências, sejam elas arquitetónicas ou religioso/ litúrgicas; todas feitas, aliás, na primeira pessoa, o que, certamente, não acontece por mero acaso: “A História transcreve-me, funde-me, reescreve-me…” (pág. 53).

Viajando pelo estrangeiro, e em “Roteiro Aberto” (pág. 59), a autora leva-nos até Espanha, mais concretamente até Sevilha/Córdova, onde a Arqueologia (pág. 61), outra das suas paixões (“o tempo dilata-se neste roteiro arqueológico”) e o Teatro por certo não deixaram de constituir opções bem sucedidas: “E o tempo prolonga-se num palco negro, onde o teatro total desafia a música, os sons, as origens, em danças rituais, dessacralizadas…”; e mais adiante: “No ar pairam lugares que Federico Garcia Lorca cantou…” (pág. 61). O grande Garcia Lorca, nascido em 1898 e tragicamente fuzilado pelos franquistas, aquando da guerra civil espanhola, e que tão belamente cantou a paisagem e os costumes da terra natal!

Em o “Tinteiro de Schiller” (pág. 65) a autora recorda: ”Fora um presente de aniversário, um tinteiro de prata e cristal, parecia um tinteiro que vira quando consultara uma das biografias de Schiller, a propósito de alguns poemas seus que traduzi. Era transparente e luminoso. Guardei-o, pois, cuidadosamente, não fosse estragar-se, partir-se, ou, ideia louca, encher-se de tinta e começar a discorrer – dentro da minha cabeça, claro – a confiar-me os seus segredos, a revelar-me o que pressenti ou aquilo que nem cheguei a perceber, nas entrelinhas dos seus poemas.” Este tinteiro foi, seguramente, um dos objetos mais carinhosamente poéticos de Maria do Sameiro Barroso: “Refrescante e inspirador”, o tinteiro de Schiller, mais do que (para alguns) um suposto amuleto, na verdade configurava para a autora um verdadeiro ícone dessa “doença incurável, mas absolutamente benigna que é a poesia e a arte”, na feliz expressão de Maria do Sameiro Barroso. Certamente fascinada pelo diário do grande poeta, dramaturgo e filósofo alemão, nascido em 1759 e falecido em 1805, ainda hoje muito justamente considerado o expoente máximo da história do teatro alemão, certamente fascinada, dizíamos, por “aquele diário que os poetas nem chegam a escrever”, é nele que a autora encontra o “espaço e o lugar para toda a fantasia…”

Doravante o seu diário “passou a ser mensal”, o que lhe permitiu mais tempo para “olhar longamente e sem pressa a próxima lua, o pôr do sol, ou pressentir as árvores do meu corpo sussurrando com o vento, pensando nos áugures antigos, no próximo quarto crescente, olhando o tinteiro de Schiller, imaginando a sua vida, as suas peças dramáticas, a sua filosofia a sua poesia o seu diário!” Por isso, assim desabafa: “No meu diário já não escrevo mais nada, a não ser o que se passa nos dias estranhos e únicos”.

E “A NOITE TEM GARRAS DE SEDA” finaliza com “Melodia Intacta”, numa bela e sentida homenagem ao seu “pai literário”, António Ramos Rosa, esse grande poeta recentemente falecido, e perante cuja memória certamente hoje nos curvamos: “Bebi da sua luz, como ave estonteada. Na sua ébria fonte, bebi os vestígios plenos, a palavra vazia. Com ele, regressei à coerência antiga, apoiada na janela nítida de um pórtico solar. Fui sacerdotisa do seu culto”... E mais adiante: “Na solidão dos enigmas, com ele aprendi que as estrelas moram o interior dos relógios, que a liberdade habita a transgressão…”; e ainda: “Na sua palavra, vi nascer os gérmenes da cal e do silêncio, os nomes despenhando-se num frémito de argila…”

Permitam-me, neste momento, e igualmente em preito de singela homenagem, a transcrição de meia dúzia de deliciosos versos da “Viagem através de Uma Nebulosa” , de António Ramos Rosa: “Não posso adiar o Amor”.

Não posso adiar o amor para outro/ século não posso ainda que o grito/ sufoque na garganta ainda que o ódio/estale e crepite e arda sob montanhas/cinzentas e montanhas cinzentas. // Não posso adiar este abraço que é/uma arma de dois gumes amor e ódio. // Não posso adiar ainda que a noite/pese séculos sobre as costas e a aurora/indecisa demore não posso adiar para/outro século a minha vida nem o meu/amor nem o meu grito de libertação. // Não posso adiar o coração.

Dele escreveu, ainda recentemente, Nuno Júdice: “A vocação da poesia de Ramos Rosa é recuperar a ligação perdida entre as palavras e as coisas, fazer brilhar o sol que não brilha na palavra sol” (Nuno Júdice in Diário de Notícias, de 28/09/2013).

Maria do Sameiro Barroso escreve em “A NOITE TEM GARRAS DE SEDA”: “O sol nunca sobra no dorso imortal dos torsos de água. Como intacta folha, regressa ao vocábulo esquecido, à recôndita voz, à face inteira. O sol nunca se esquece de acordar a noite…”.

“A NOITE TEM GARRAS DE SEDE” é, sem dúvida, uma obra para se ler, para refletir e para saborear!..