sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O LATIM na BRAGA ROMANA – 2015

“ Tem o Latim de ser considerado como língua de cultura que, enquanto tal, prevaleceu muito para além dos tempos gloriosos e longínquos do Império Romano, cultivada, ao longo de vários séculos, por cientistas e homens de letras, poetas e filósofos, que a elegeram como meio de comunicação dos múltiplos saberes que foram constituindo…” – Cristina Almeida Ribeiro, citada por Domingos Alves, in Diário do Minho de 08/06/9.

· Tive oportunidade de visitar as três Praças de Alimentação, no Largo das Carvalheiras, Largo de S.Paulo e Largo de S.Tiago e foi com visível agrado que constatei, “in loco”, que parecem finalmente desaparecidos “ad aeternum” os tão famigerados utensílios de alumínio, plástico, e afins, utilizados para serviço das muitas e variadas refeições/petiscos, desta vez substituídos por outros de barro, aliás bem mais frescos e “romanos”… Pena que a identificação das ementas, ou pelo menos de alguns produtos, não aparecessem escritos em Latim, ainda que morfologicamente adaptado. Aliás, o rico património que os romanos nos legaram não se resume apenas ao valioso espólio arqueológico de que Bracara Augusta se pode e deve orgulhar. A Língua Latina (a verdadeira mãe da Língua Portuguesa) deveria, pois, também estar presente; infelizmente, porém, não foi isso o que se verificou - houve algumas honrosas excepções, diga-se, desde já. Com efeito, poucas foram as tendas que tiveram essa preocupação, sem que se possa, de todo, responsabilizar a Organização da “Braga Romana” e, neste caso, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva que, em parceria com a Câmara Municipal e o pelouro da Cultura da Junta de Freguesia de S.Vicente, tudo fizeram para que tal não viesse a acontecer, ao terem organizado, gratuitamente, umas simples, mas certamente muito úteis, “Breves Oficinas” de Latim. Evidentemente que me refiro, apenas e tão só, às tendas comerciais, de alimentação e afins. Quanto a outras áreas, estas já da exclusiva responsabilidade da Organização - com quem, aliás, tivemos o gosto e a honra de colaborar - todo o agrado e satisfação pela sinalética exibida nas diversas faixas e cartazes, quer das realizações lúdico/pedagógicas, quer dos magníficos cortejos histórico/alegóricos, onde o empenho e a preocupação pelo rigor linguístico da língua do Lácio por certo não passaram despercebidos a quem quer que fosse. É que, apesar de nem sempre fácil, tornava-se deveras imperiosa e absolutamente exigível, face à contextualização histórico/literária, uma concreta referência, ainda que pontualmente breve, à verdadeira “língua dos romanos”…

Relativamente aos factos/acontecimentos da “Braga Romana” propriamente dita, permitam-me algumas breves referências, agora de ordem histórico/cultural, assim mais ou menos “ad hoc…”, e que certamente, de modo particular, feriram a nossa atenção:

1. “Ludi Litterarii”. Enorme cortejo pedagógico/cultural, de mais de 5.500 crianças oriundas de diversas instituições de ensino, emprestando às ruas do Centro Histórico por onde passavam uma graciosidade e colorido verdadeiramente encantadores!

2. Com a solene imponência do “Bracara Augusta Triumphalis”- vários quadros alusivos ao período romano – de novo se repetiu uma excelente “recriação histórica da entrada triunfal de César Augusto na bimilenar cidade de Braga”. Apenas um senão: pareceu-nos que, mesmo sem crianças, se transformou num cortejo demasiado longo…

3. Bela recriação do “Casamento Romano” levada a cabo pela Equipa Espiral.

4. Inovador concurso” De Familia Mea”, com as famílias bracarenses a serem desafiadas a usar, sem vergonha, os trajes da época romana durante todo o evento da “Braga Romana”.

5. Muito oportuna e sugestiva a referência da Associação Jovemcoop à vulgar “Casa Romana”, sediada no Largo de S.João do Souto, e onde se podiam admirar, por exemplo, os espaços do “Atrium” (entrada principal); do “Triclinium” (sala de jantar); e do “Cubiculum” (quarto de dormir).

6. Schola Romana, no edifício da Escola do 1º ciclo de S. João do Souto. Devo dizer, aliás, que foi das iniciativas que mais nos surpreenderam, sobretudo pelo conteúdo dos expositores que lá se encontravam: nada mais, nada menos que uma magnífica referência, em excelentes fotocópias a cores, à Língua e Cultura Romanas, onde podámos ler, entre outros títulos, os seguintes: “Quem eram os Romanos”? ; “O Latim e o Ensino”; “Vida Familiar”; Cidadãos e Governantes”; “Roupa, Penteados, Jóias”; “Exército Conquistador”; “Comida e Bebida”; “A Vida na Cidade e no Campo”; “Estradas, Fortes, Muralhas” – tudo numa síntese muito bem elaborada e com uma linguagem perfeitamente acessível à faixa etária a que se destinavam - talvez tivesse passado despercebido a muito boa gente... não, certamente, a nós próprio. Mérito por inteiro à Associação de Pais, Pessoal Docente, crianças, e todos os que tornaram possível um tão belo e oportuno trabalho histórico/pedagógico! 

7. Finalmente, o Polo museológico na zona das Carvalheiras. “A ideia é criar no local um polo museológico a céu aberto que permitiria, assim, um alargamento do centro histórico para aquela zona da cidade”…”que tem que integrar também, naturalmente, elementos de interpretação, de preservação de testemunhos que são susceptíveis à degradação das intempéries” – in Diário do Minho de 23/05/15. Ideia defendida pelo vereador da Câmara Municipal de Braga, Dr. Miguel Bandeira, aquando do colóquio “Cidades, Património e Desenvolvimento”, que decorreu no auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e cuja concretização, tão breve quanto possível merecerá, sem dúvida, o maior aplauso de todos os bracarenses!


PS. No âmbito da “Braga Romana”- 2015, tivemos ainda oportunidade de visitar, na Casa dos Crivos, a “Bracara From Augustus”, magnífica exposição fotográfica, com belíssimas fotos alusivas à Bracara Augusta. Para todos aqueles que, tal como eu, ficaram algo surpreendidos com o termo “from”, aqui fica a explicação que me foi dada: trata-se de” uma frase/slogan atribuída aos responsáveis pela Exposição”. Ainda que francamente discutível (daí o meu natural reparo) face ao contexto, a mesma aparece devidamente assinalada com aspas; assim sendo, nihil obstat…


Braga, 26 de Maio, de 2015
Domingos Alves