sexta-feira, 27 de maio de 2016

Prof. Doutor Jorge Peixoto Coutinho – In memoriam…


Nascido a 07 de Novembro, de 1939, em Alvarães, Viana do Castelo, o Prof. Jorge Coutinho deixa um lugar muito difícil de preencher, quer na esfera do múnus pastoral, em que foi um exímio cumpridor, quer na qualidade de emérito docente e abalizado intelectual. Licenciado em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, em 1965 e em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra obteve, ainda, o doutoramento em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Braga, com uma tese sobre o poeta Teixeira de Pascoais “ O Pensamento de Teixeira de Pascoais”.

Conheci-o há longos anos, e com ele mantive uma sólida amizade que hoje me permite recordá-lo com todo o respeito e até alguma emoção. Frequentemente me encontrava com o Doutor Jorge Coutinho na rua; a última vez, ainda recentemente, junto da Loja do Cidadão; sabendo-o já de precária saúde, uma vez mais o cumprimentei e lhe desejei que tudo corresse pelo melhor; “mais ou menos, Domingos, tudo se há-de compor”, foi a resposta, antes ainda de me perguntar, como aliás sempre o fazia: “como correm as coisas lá pela Junta de S.Vicente”?- “Vamos fazendo alguma coisa, Sr. Doutor” – mais uns dedos de conversa e lá seguíamos cada um para o seu destino, mal imaginava eu que este era o último aperto de mão que lhe dava…

A velha amizade que sempre nos uniu começou a ser alicerçada já lá vão muitos anos, quando o Doutor Jorge Coutinho dava aulas de desenho/pintura no Seminário Menor; aliás, ele era um verdadeiro apaixonado pela pintura, incutindo nos miúdos que na altura, de facto, ainda éramos, a curiosidade e o gosto bem próprios daquelas idades. Ainda hoje religiosamente conservo um pequeno trabalho/ramalhete de flores por mim “pintado” naquela época…

Muito mais tarde, já nos inícios da década de 70, e quando ainda aluno da Faculdade de Filosofia, outro episódio para recordar: era meu professor de Literatura 1, o saudoso Pe João Mendes, S.J., outro grande Homem e extraordinário Professor, muito reconhecidamente considerado um dos mais prestigiados críticos literários do seu tempo, com uma sabedoria imensa, só comparável à sua extrema simplicidade, ainda que muito rigoroso e exigente com os seus alunos. Nessa altura a sebenta do mestre ia sendo compilada por folhas dactilografadas a stencil e periodicamente distribuídas aos alunos. Quando, casualmente, as mostrei ao Doutor Jorge Coutinho, então a frequentar o Curso de Românicas em Coimbra, se a memória me não falha tendo como professor o catedrático Vítor Aguiar e Silva, o meu amigo ficou tão entusiasmado com os apontamentos que, dali em diante, comecei a ficar com dois exemplares… creio, até, sem poder, todavia, garantir, que igualmente os terá mostrado ao Doutor Vítor Aguiar e Silva. Tratava-se de textos originais e muito bem conseguidos, onde o Prof. João Mendes escalpelizava, como ninguém, e seguindo a análise dos tipos psicológicos de Eduard Spranger, Gaston Bachelard e outros versados nas estruturas imaginárias (encarnação imagética de problemas psicológicos), a caracterização humano/literária de autores, como Fernão Lopes, Gil Vicente, Camões, Pe António Vieira, Almeida Garret e Fernando Pessoa. 

O Doutor Jorge Coutinho era, sem dúvida alguma, um verdadeiro intelectual, que só passava despercebido a quem não estivesse atento. Deixa, pois, um grande vazio, não só nas Instituições onde leccionou, Seminário, Fac. de Filosofia e Fac. de Teologia, como noutras, onde exerceu a sua actividade pastoral: Cúria Arquiepiscopal, Cabido da Sé, Fraternidade Sacerdotal e outras mais, sem esquecer a de Presidente da Comissão da Quaresma e das Solenidades da Semana Santa de Braga.

Finalmente, a este propósito e se me permitem, aqui deixo um repto ao Município de Braga: não se fique apenas e só pelo “voto de pesar pelo falecimento do cónego Jorge Peixoto Coutinho…” . Na verdade, o Prof. Doutor Jorge Coutinho, por certo que merecerá bem mais do que um simples voto de pesar… 



Domingos Alves



Nota: Por opção pessoal, o autor do texto não segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.